domingo, 21 de novembro de 2021

Hoje a Igreja celebra a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

 


Instituída pelo Papa Pio XI, ela nos lembra algo essencial, mas que é negado e combatido por governos cada vez mais violentos em restringir a fé em Deus

 

Instituída pelo Papa Pio XI em 1925, a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, encerrou ontem o ano litúrgico ao celebrar Jesus como o Rei de tudo e de todos e nos recordar que somos parte do Seu Reino – um Reino que não é deste mundo, mas que podemos alcançar desde agora mediante as graças que Deus nos concede para nos santificar e para ajudarmos os nossos irmãos a se transformarem pelo amor.

É esta, aliás, a missão da Igreja, conforme nos explicou em 2012 o Papa Bento XVI, ao presidir esta mesma solenidade:

“Com o Seu sacrifício, Jesus nos abriu a estrada para uma relação profunda com Deus: n’Ele nos tornamos verdadeiros filhos adotivos, participando assim da Sua realeza sobre o mundo. Ser discípulos de Jesus significa, portanto, não nos deixarmos fascinar pela lógica mundana do poder, mas levar ao mundo a luz da verdade e do amor de Deus”.

Afinal, o próprio Jesus afirmou:

“Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo” (Jo 18,37).

O atual Papa Emérito também relacionou o Rei Cristo Jesus com a oração do Pai-Nosso, observando que o pedido “Venha a nós o Vosso Reino” equivale a dizer a Jesus:

“Senhor, fazei com que sejamos Vossos; vivei em nós, reuni a humanidade dispersa e atribulada, para que, em Vós, tudo se submeta ao Pai da misericórdia e do amor”.

A festa de Cristo Rei foi instituída pelo Papa Pio XI num contexto que guarda chamativas semelhanças com o nosso tempo – se não nas formas, que agora parecem mais “sutis” por priorizarem a guerra cultural sobre a força física, certamente no fundo, que prega um mundo materialista e abertamente limitador da fé.

Governos enfaticamente opressores da fé

Em 1925, o comunismo era imposto à Rússia e a territórios vizinhos mediante uma violência avassaladora. A visão comunista do mundo e do ser humano é essencialmente materialista: afirma que só existe esta vida, restringe liberdades fundamentais que derivam da nossa natureza espiritual, impede a transcendência e, por consequência, impõe o ateísmo teórico e prático – e literalmente o impõe, proibindo as pessoas de viverem a própria fé e as obrigando a servirem a um novo deus: o Estado, capitaneado por um grupo de “camaradas” que se digladiam para permanecer no poder esmagando qualquer inimigo sem chance de diálogo.

Diante de governos que procuravam por todos os meios e com toda a virulência implantar a própria visão materialista de mundorestringindo abertamente a prática da fé em Deus, o Papa Pio XI escreveu:

“Se todo o poder foi dado ao Senhor Jesus, no céu e na terra; se os homens, resgatados pelo Seu sangue preciosíssimo, se tornam, com novo título, súditos do Seu império; se, finalmente, este poder abraça a natureza humana em seu conjunto, é claro que nenhuma das nossas faculdades pode subtrair-se a essa realeza. É preciso, pois, que Ele reine em nossas inteligências: com plena submissão, com adesão firme e constante, devemos crer nas verdades reveladas e nos ensinamentos de Cristo. É preciso que Ele reine em nossas vontades: devemos observar as leis e os mandamentos de Deus. É preciso que Ele reine em nossos corações: devemos mortificar os nossos afetos naturais e amar a Deus sobre todas as coisas” (Encíclica Quas Primas, 34).

 Mas falar de realeza pode trazer muitos mal-entendidos. Se olharmos para os reis de antigamente, que tinham um poder absoluto sobre seus povos, veremos quase sempre que esse poder acaba corrompendo, de certa forma o coração do homem, ferido pelo pecado. Certamente houve reis santos, mas sabemos que nem os santos estão livres da ferida do pecado. De toda forma, a realeza de Jesus é de outra índole. Em sua realeza, lembramos sua divindade, que se manifestou colocando-se a serviço da humanidade. Esse traço característico de serviço também não encontramos com facilidade naqueles que detém um poder muito grande. (Não estamos excluindo a possibilidade, e certamente muita gente com essas responsabilidades fez um ótimo serviço à população).

Mas, inclusive, esse serviço que Jesus oferece é diferente de qualquer outro serviço prestado por pessoas poderosas. Por mais poderoso que fosse alguém, não poderia servir-nos dando-nos a salvação, o perdão dos pecados, a possibilidade de voltar a amizade com Deus sempre que nos voltemos para ele arrependidos das nossas faltas. O verdadeiro serviço de Jesus foi mostrar que nós somos criaturas de Deus, feridas pelo pecado, mas que Nele podemos encontrar de novo o sentido de nossas vidas, que sem Ele caminha para a morte.

Não é uma festa Bíblica, há que dizer. Jesus não aparece na Bíblia como um Senhor Glorioso dos povos. Pelo contrário, uma das vezes que a realeza de Jesus se manifesta é quando estão zombando dele. Quando o vestem de púrpura e o coroam com a coroa de espinhos, de maneira velada, podemos reconhecer aí um sinal de sua realeza, mas a verdade é que os soldados não estavam tão reverentes assim. A outra vez que Jesus é reconhecido como rei é quando entra montado em um burrico em Jerusalém. Ali ele é até aclamado como o filho de Davi! Mas parece que esse reconhecimento não durou muito, já que pouco depois a multidão gritava: Crucifica-o!

Nessa ocasião vale a pena que nos perguntemos sobre quem é o Senhor Jesus em nossas vidas. Será que permitimos realmente que ele seja o centro dela? Todas as vezes que rezamos o Pai-Nosso estamos pedindo que seu reino, ou seja, sua realeza, seu domínio venha sobre nós. E o nosso coração, está preparado para reconhecer seu verdadeiro rei? Porque isso é fundamental para o cristão: Reconhecer-se criatura. No nosso mundo, que muito se fala de autonomia, de segurança pessoal, que pretende ter o controle sobre tudo, essa festa vem nos recordar que Aquele que verdadeiramente reina é somente o Cristo.

Em 1969, o beato Paulo VI deu à solenidade o seu atual título completo: Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Também foi ele quem estabeleceu como data desta grande festa o último domingo do ano litúrgico.

Uma vez encerrado o ano litúrgico na Solenidade de Cristo Rei, a Igreja se prepara agora para entrar no Advento, o tempo da espera pelo Nascimento do Salvador.

Como ao longo de toda a história, não faltarão Herodes para tentar matá-lo. E, como ao longo de toda a história, cada um deles fracassará.

Viva Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo!


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

A CERTEZA DO CÉU

 

O Cardeal Comastri, Arcipreste emérito da Basílica de São Pedro, gosta de contar uma experiência pessoal que o impressionou profundamente: “Um dia, quando eu estava em Roma esperando   um táxi com Madre Teresa para nos levar ao Vaticano, um carro  que estava passando parou e o motorista, que tinha reconhecido    Madre Teresa, perguntou feliz: ‘Madre, o que é que a senhora       está esperando?’. ‘Estou esperando o Céu, meu filho’, respondeu Madre Teresa sem delongas.

 

Somente uma santa, que amava o Céu e o trazia em seu coração, poderia ter dado uma resposta assim, tão direta. Em nossa vida cotidiana, muitas vezes esquecemos que temos origem no Céu e que estamos a caminho do Céu. O Paraíso nos parece uma realidade nebulosa, perdida e fora do mundo, até mesmo “incerta”. Na melhor das hipóteses, para a maioria das pessoas, o Céu é algo muito distante, que se reprime ao longo da vida para não ter de se confrontar com a questão da morte e do “depois”. Mas será que Jesus não desceu do Céu à terra a fim de nos abrir o acesso à Pátria eterna?

“Arrependei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo”. Estas são as primeiras palavras da pregação pública de Jesus. Ele mesmo é o Reino dos Céus. Onde quer que o amor de Deus tenha chegado nesta terra, já se pode experimentar algo da realidade celestial. Jesus deu à sua Igreja as chaves do Reino dos Céus e aos sacerdotes o pleno poder de fazer descer o Céu a esta terra por meio dos sacramentos. Ele nos deu a si mesmo, o Pão do Céu, e o Espírito Santo como dom do Alto.

O Céu é a resposta definitiva a todo o mal

 

Todas as pessoas, até mesmo as que não têm fé, trazem em si uma esperança pelo Céu. Desejamos especialmente que os falecidos, que nos eram queridos, cheguem a um “Lugar de Felicidade” e que possamos um dia vê-los novamente. Ainda assim, em muitos lugares o Céu é ridicularizado, descartado como um consolo barato, e obscurecido pela violência, ódio e sofrimento no mundo. Mas, justamente porque há tanta injustiça e maldade, o Paraíso tem de existir. Não seria injusto se todo crime ficasse impune, se toda vítima de violência permanecesse para sempre apenas como vítima? O Céu é a resposta definitiva a todo o mal, a única que pode trazer justiça e reparação aos que, sendo inocentes, suportam o sofrimento.

Certa vez uma franciscana, a Irmã Sebalda, perguntou meio sem pensar a um menino paralítico: “Robi, você também não preferiria poder caminhar?”, o menino respondeu de modo espontâneo: “Sim, se não existisse um Paraíso, então gostaria, sim!” É a essas almas puras que pertence o Reino dos Céus. Nossa Senhora quer fazer-nos entender mais profundamente os segredos do Céu, especialmente no mês de outubro, através do Rosário. Ela nos entrega o Rosário como uma escada celeste que nos leva até Deus. Obrigado, caros amigos, porque por meio de sua fé e de seu amor, irradiam no mundo a glória e a alegria do Céu.

Pe. Martin M. Barta
Assistente Eclesiástico Internacional

Fonte: ACN - AIS