sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

PADRE CONHECIDO COMO ELVIS ATRAI MAIS DE 1.000 FIÉIS POR MISSA

          Carismático e com um visual que lembra o rei do rock (Elvis Presley),                 o sacerdote é o novo fenômeno católico da cidade de São Paulo; 

ele acaba de lançar um CD para terminar a 

construção de igreja no Butantã



                                                   A fiel Silvia Lima, que chega com duas horas de antecedência                                                                                                                     à celebração: "Quem se atrasa não consegue entrar"                                                                         (Foto: Mario Rodrigues)


Toda quinta-feira, a empresária Silvia Cristina Souza Lima, de 42 anos, sai de casa, na Freguesia do Ó, pontualmente às 17 horas e percorre 17 quilômetros até o Rio Pequeno, no Butantã. A missa da Paróquia Santíssima Trindade só começa às 20 horas, mas é preciso chegar com bastante antecedência. “Quem se atrasa fica em pé ou nem entra”, explica. Ela frequenta o local desde 2011 e afirma ter sido libertada das dores da alma causadas pela depressão. Nas celebrações na Zona Oeste dedicadas à cura e à libertação, mais de 1 000 pessoas se espremem na igreja, com espaço para 650 fiéis sentados. Muitos ficam de pé nos corredores e há quem acompanhe tudo da rua. O responsável por esse novo sucesso católico de público na capital é Marcos Roberto Pires, de 45 anos, mais conhecido por seu rebanho como o padre “Elvis”. A razão para o apelido é o estilo do religioso, com direito a topete, sem um fio grisalho fora do lugar, costeleta e vozeirão e desenvoltura para cantar louvores dignos do rei do rock.


A paróquia, na Zona Oeste: a nova igreja foi construída para abrigar público do padre

(Foto: Mário Rodrigues)



Quando termina o repertório musical, o padre dá início à liturgia. O momento é sério e Marcos Roberto muda radicalmente o comportamento. Na homilia, aborda temas como os transtornos da vida na grande metrópole, sempre no tom coloquial (há duas semanas, por exemplo, recorreu à palavra “porrada” como sinônimo de provações). Em determinado momento, concentra forças para expulsar dali o Satanás. De semblante fechado, percorre o ambiente com a cruz em mãos. Algumas pessoas passam mal e caem sobre bancos. Uma mulher precisa ser segurada por seis pessoas. Aos domingos, quando reza três missas (às 8h, 10h e 18h30), só que seguindo um padrão mais tradicional, o clima costuma ser mais tranquilo e o público, menor. Ao término da última delas, coloca-se à porta da paróquia para atender os que formam fila no local. Abraça os fiéis e abençoa as fotos levadas por eles. “O papa Francisco diz que o pastor precisa ter o cheiro de suas ovelhas. Também gosto de estar perto do povo”, afirma.


"Cantar é rezar duas vezes", diz o sacerdote Marcos Roberto Pires, chamado 
pelos fieis de padre "Elvis" (Foto: Mario Rodrigues)


Durante aproximadamente duas horas, Marcos Roberto parece uma versão mais agitada do padre Marcelo, referência por aqui na arte de incrementar a missa com músicas e danças agitadas. O sacerdote do Butantã, de microfone na mão, abre os trabalhos apresentando cerca de seis músicas, com a multidão reproduzindo os gestos das suas coreografias. “Se é para louvar, eu fico louco”, diz ele, em um dos hinos. Na frente, um grupo de jovens pula abraçado durante o louvor. A performance do sacerdote é digna da alcunha que recebeu. O “Elvis” de batina não para um minuto. Ergue as mãos ao céu, remexe-se e faz caras e bocas como se encarnasse mesmo uma versão católica do ídolo americano. “Cantar é rezar duas vezes”, justifica o padre, citando Santo Agostinho. Um de seus ajudantes nessa hora é o vendedor Fábio Menegato, de 39 anos. “Ele é acolhedor e revestido do Espírito Santo”, elogia.




Quando assumiu a Santíssima Trindade, há quatro anos, a paróquia comportava 220 pessoas. Na base da propaganda boca a boca, o público foi crescendo de forma rápida. Logo o espaço se tornou pequeno e acabou sendo desativado. Ao lado, foi erguida a atual igreja, cuja inauguração ocorreu há pouco mais de um ano. Na última quarta (10), o padre lançou no lugar seu primeiro CD. Com o título Eu Vou por Amor, foi gravado de forma independente, com canções católicas clássicas e apenas duas músicas inéditas. O disco começou a ser vendido na igreja por 23 reais, e o dinheiro será usado para finalizar a obra do templo, que ainda carece de acabamento na parte externa e na decoração. No interior, tirando a cruz no altar, não há outras imagens sacras. Ao avisar aos fiéis que o álbum estava quase pronto, Marcos Roberto brincou: “Em um só CD vocês vão levar um misto de Elvis Presley, Fábio Junior e Sidney Magal”. Do meio do público, a aposentada Maria Raimundo, de 60 anos, gritou: “Eu quero um DVD. O senhor tem de ir para a televisão”.


   O carismático padre Marcos Roberto Pires lançou o primeiro CD "Eu vou por Amor" no dia 10 de dezembro. Venda será revertida para terminar construção da igreja (Foto: Fernando Moraes)


Embora não fique muito confortável em ser conhecido dessa forma, padre “Elvis” confessa ter realmente uma queda pelo cantor americano. Sua lembrança mais antiga remonta aos 8 anos de idade, quando ouviu pela TV a notícia da morte do astro, em 16 de agosto de 1977. Ainda na infância, começou a colecionar discos e a ver filmes estrelados pelo rei do rock. Mais tarde, o interesse cresceu ao tomar contato com as gravações gospel do músico. Mas Marcos Roberto diz que a admiração para por aí. “Não sou um imitador dele e não entendo o porquê de tanta comparação”, jura. O cabelo volumoso seria uma graça divina a serviço da evangelização. Não precisa ser penteado estrategicamente para parecer com o do ídolo.
Como os fios são grossos, basta passar a mão para ajeitá-los. Garante que não faz escova nem passa creme. “Deus dá dons para atrair os fiéis. Se minha estética ajuda, que as pessoas venham e encontrem a espiritualidade e a fé. Mas não é um show do Elvis”, avisa. De acordo com os especialistas no assunto, gente como Marcos Roberto ajuda a Igreja Católica a combater a perda de fiéis para os evangélicos e a indiferença religiosa na metrópole. “Ter padres que consigam atrair multidões sem ser celebridades é uma dádiva”, diz o teólogo Jorge Claudio Ribeiro, da PUC-SP.
Filho de um tapeceiro e de uma dona de casa, Marcos Roberto é um paulistano criado no bairro da Vila Santa Maria, na Zona Norte. Aos 22 anos, frequentava o grupo de jovens da igreja da região, mas não pensava em virar padre. “Eu sonhava em transmitir a palavra de Deus, mas como um pai de família”, conta. A vocação religiosa apareceu muito tempo depois. Essa mudança ocorreu em 2001, após romper um relacionamento de cinco anos com uma garota. Ao começar os estudos no seminário, avisou aos superiores que nunca tinha roubado, matado ou usado drogas, mas havia sido muito namorador. “Tive experiência com várias mocinhas. Então sei a questão do afeto, do namoro e das tentações”, confessa.
O desejo de vestir a batina veio justamente quando começou a se preparar para o casamento, ao ficar noivo diante de 40 000 pessoas no palco de um acampamento da comunidade católica da Canção Nova, em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba. A decisão, maturada ao longo de dois anos, foi tomada com a ajuda do padre Alex Hernan Bodero Coelho (morto em 2013) e do monsenhor Vicente Ancona, vigário regional da prelazia do Opus Dei no Brasil. “Eu sabia que não a estava fazendo feliz. Nem eu estava feliz, apesar de gostar muito dela”, lembra Marcos Roberto. Depois disso, ele nunca mais teve contato com a ex.
Para abraçar o sacerdócio, o padre abdicou também da carreira de professor. Antes havia trabalhado como motoboy, office-boy e analista de fotolito. Formado em geografia pelas Faculdades Integradas Teresa Martin e pós-graduado pela PUC-SP, lecionou por sete anos em escolas particulares e públicas da Zona Norte. No Colégio Centenário, na Casa Verde, onde deu aula no fim dos anos 90 para estudantes do ensino médio do período noturno, era respeitado pela turma e pelos colegas. “Ele era bonitão, mas não era uma pessoa que queria chamar atenção”, lembra a diretora da escola Rosina D’Asti Ventura. Ao descobrir, recentemente, que Marcos Roberto havia se tornado sacerdote, ela não ficou surpresa. “Marcos já era muito certinho.” O dom da palavra, no entanto, surpreendeu a mãe do padre, a dona de casa Almerinda de Jesus Quintal Pires, de 67 anos. “Ele era tímido e gago”, revela.


Antes de abraçar o sacerdócio, Marcos Roberto foi professor 
de geografia por sete anos (Foto: Arquivo Pessoal)
Apesar do sucesso recente e do lançamento de um CD, Marcos Roberto quer continuar levando sua vida pacata, dividindo-se entre o trabalho na paróquia e as visitas aos doentes no bairro do Butantã. Para conseguir fôlego para as nove celebrações semanais que realiza, ele frequenta a academia quatro vezes por semana; lá, corre e faz musculação. Só não revela onde é. “Até Jesus precisava de um momento sozinho”, desconversa. Nas horas vagas, torce pelo Palmeiras. Queixa-se de que Deus não andou ouvindo suas orações nessa área e sofreu até a última rodada do Campeonato Brasileiro para ver o alviverde escapar do rebaixamento. Mas nunca perdeu a fé. Aos torcedores que andavam aflitos com a situação, costumava dizer, parafraseando Jesus: “Não tenha medo, eu venci o mundo”.
O padre Marcos não é o primeiro padre católico a fazer sucesso na mídia. Existem vários outros padres que estiveram ou ainda estão com grande popularidade, devido aos seus carismas. Eis alguns deles:


Pe. Zezinho. Foi o precursor entre os sacerdotes que fizeram sucesso 
na mídia por suas músicas, muitas das quais cantadas até hoje.
(Foto da Internet)


Pe. Antônio Maria. Também fez sucesso com várias músicas.
(Foto da Internet)


Pe. Marcelo Rossi,de 47 anos, foi um dos precursores do fenômeno dos sacerdotes famosos. 
Ganhou destaque a partir de 1998 em programas de TV. Tem mais de 14 milhões de CDs vendidos.
(Foto: Mario Rodrigues)


Pe. Fábio de Melo, de 43 anos, é cantor, compositor, escritor e apresentador. 
Publicou catorze livros, quatro DVDs e 23 CDs. Apresenta o programa 
Direção Espiritual na TV Canção Nova, faz shows e palestras.
(Foto: Globo/Bob Paulino)


Pe. Reginaldo Manzotti. Grande comunicador, canta, apresenta o programa 
Eangelizashow, faz palestras etc.
(Foto da Internet)


Com pinta de galã sertanejo, Pe. Alessandro Campos, de 32 anos, 
já lançou dois CDs. Às quartas-feiras, realiza uma missa em 
Mogi das Cruzes que atrai mais de 2 000 pessoas. 
De quinta a domingo, faz shows pelo Brasil. 
Ele ainda apresenta um programa na TV Aparecida.
(Foto: Mario Rodrigues)


Com pinta de galã sertanejo, Pe. Alessandro Campos, 
de 32 anos, já lançou dois CDs. Às quartas-feiras, 
realiza uma missa em Mogi das Cruzes que atrai mais
 de 2 000 pessoas. De quinta a domingo, faz shows pelo 
Brasil. Ele ainda apresenta um programa na TV Aparecida.
(Foto: Mario Rodrigues)


Fonte: Veja São Paulo

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