De todo o relato da Paixão que os evangelhos nos fazem, poderíamos nos perguntar: qual foi o momento em que Jesus mais sofreu?
Esta pergunta também foi feita por uma jovem de 22 anos em 1943: Chiara Lubich. Foi durante a 2ª Guerra Mundial. Nos refúgios durante os bombardeios, liam o Evangelho; haviam descoberto que Deus-Amor é o único ideal que nenhuma bomba pode destruir. Depois saíam para buscar nos escombros os falecidos e atender os feridos.
Uma das jovens ficou gravemente doente devido às condições higiênicas dos feridos. Chamaram o padre e Chiara, antes de que ele desse a unção dos enfermos à jovem, aproximou-se dele e lhe perguntou: “Qual foi o momento em que Jesus mais sofreu em sua Paixão?”.
O sacerdote respondeu: “Eu acho que foi seu grito na cruz: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?’”.
Então, Chiara reuniu suas companheiras ao redor da cama da jovem doente e lhes propôs que se unissem a “Jesus Abandonado”; que O escolhessem para amá-lo para sempre em todos os sofrimentos, nos próprios e nos de toda a humanidade.
São João Paulo II dizia que a experiência humana do abandono de Jesus na cruz, quando grita “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”, responde a uma dor compartilhada pelas três pessoas da Santíssima Trindade: “sofrida por Deus Pai, que a permite por amor aos homens, e pelo Espírito, que cala para que Jesus possa culminar a obra redentora; e também por Jesus: é o rasgar-se de Deus por amor aos homens”.
Sim, Jesus, pelo menos por um instante, sentiu o abandono do Pai. E não poderia ter sido de outra maneira, porque, como explica São Irineu, Jesus não remiu o que não assumiu. Se salvou todos os homens de todas as dores, das injustiças, dos tormentos, dos desprezos, e do próprio sentimento de abandono de Deus, é porque Ele na cruz, tornou-as suas, sofreu-as em sua própria carne e em sua própria alma.
Por isso, a esse Jesus crucificado e abandonado, não podemos vê-lo somente refletido nas imagens que criamos dele. Precisamos vê-lo, acima de tudo, em nós mesmos, quando nos sentimos abandonados; e nos outros, quando se sentem abandonados.
Podemos e devemos reconhecê-lo e dizer-lhe: “És Tu”. O rejeitado, marginalizado, esquecido, solitário. O caluniado, maltratado, enganado, zombado. O desprezado, entristecido, angustiado, anulado. E abraçá-lo, dizendo: “Eu te amo assim”. E então dar o salto quantitativo, amando-o, fazendo sua vontade, pedindo-lhe: “Age em mim”.
E podemos inclusive, com nossa vida, dar testemunho de que Jesus crucificado e abandonado acompanhou toda solidão, iluminou toda escuridão, preencheu todo vazio, anulou toda dor, apagou todo pecado.
Por: Manuel Bru
Fonte: Aleteia
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